Alfredo Oswald, filho do compositor brasileiro Henrique Oswald e de Laudomia Bombernard Gasperini Oswald, italiana, nasceu em Florença, Itália, no dia 26 de junho de 1884, sendo registrado como brasileiro no Vice Consulado do Império do Brasil em Florença e batisado na Basílica de S. João Batista com os nomes de Alfredo Mario Henrique Alberto Leão. Lá viveu 20 anos, estudando piano com Giuseppe Buonamici, que já fora professor de seu pai, e que era considerado na época o aluno favorito de Liszt e Von Bulow.
Em 1902 inicia uma carreira de concertista, apresentando-se na França, Alemanha, Itália, Bélgica , Inglaterra, América do Norte e Canadá, sempre com excelentes apreciações dos mais severos críticos. Considerado pelos Americanos do Norte “o mais hábil músico da América do Sul – um pianista de raro talento, possuidor de competência técnica, inteligência e sensibilidade que lhe dão imediata reputação” segundo uma relação em que é colocado entre os mais famosos artistas do mundo.
Excelente desenhista, pratica a gravura com seu irmão, Carlos Oswald, no período em que fixa residência no Brasil, quando foi professor em São Paulo de 1912 a 1919, onde residiu com a esposa Beatriz Bachelli. Realizou gravuras satíricas que, expostas posteriormente nos Estados Unidos da América do Norte, alcançariam enorme interesse.
Em 1922 Alfredo Oswald é nomeado professor catedrático do “Peabody Conservatory of Baltimore” – USA – honra até então só concedida a músicos americanos natos.
Em 1930 abandona a carreira de concertista, entrando para o convento dos Jesuitas “Georgetown Preparatory School” em Washington, enquanto a esposa era recebida como monja no Convento das Carmelitas de Baltimore, em uma decisão que emocionaria os Estados Unidos e os amigos do Brasil.
Passa a dedicar-se então ao serviço religioso, enquanto continua a ensinar piano, desenho, tocar órgão e compor.
Falece em Washington, em julho de 1972, após sobreviver alguns anos a um derrame cerebral que o condenou a uma cadeira de rodas, tendo-o deixado parcialmente paralítico. Faz então adaptações de músicas tradicionais, e compõe interessantes peças para serem executadas somente com a mão direita, que lhe restara.
A esposa de Alfredo Oswald era filha do Deputado C. Bacchelli, do Parlamento italiano. Conheceu-a quando ela tinha 17 anos. Era de religião protestante e Alfredo converteu-a ao catolicismo, como, aliás, já o havia feito seu pai, Henrique Oswald, que também convertera Laudomia, sua esposa, antes do casamento.
Beatriz Bacchelli era irmã de Ricardo Bacchelli, conceituado escritor italiano, falecido em 1985, e autor de livros célebres na Itália, sendo mais o conhecido a trilogia “O Moinho do Pó”, publicado em 1940 e que foi filmado por Alberto Lattuada em 1948. Foi um dos colaboradores da revista “RONDA”, onde se destacou como o máximo representante do movimento por ela representado, isso em 1920.
Beatriz era mulher extraordinariamente culta e inteligente, tendo com Alfredo formado um par perfeito, o que deixou mais intrigados os amigos e a família diante da decisão dos dois de se recolherem a um convento.
O jornalista Moacyr Padilha escreveu no “Jornal do Commercio” em maio de 1959, quando da última visita de Alfredo ao Brasil, como membro do juri do II Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro:
“Alfredo Oswald está nos antípodas do tipo clássico do místico…”. Foi esse homem que criou um problema sério para Pio XI resolver, ao pedir ao Vaticano, juntamente com sua mulher, permissão para dissolverem o vínculo conjugal a fim de ingressarem na vida religiosa. Pio XI não atendeu totalmente aos desejos dos peticionários, pois negou-se a assinar a dissolução do vínculo matrimonial.
Entretanto permitiu que ingressassem em um convento com a condição de que um dos dois se recolhesse a uma Ordem Fechada como é a das Carmelitas. Continuaram casados até a morte, porém vivendo separados. Alfredo tinha licença para visitar regularmente a mulher, vendo-a somente através das grades.
De natureza alegre, Alfredo assim permaneceu até a velhice – irreverente e sempre pronto para uma brincadeira. Continuou sua carreira de concertista, já então como Irmão religioso, mas o convento não lhe tirou o charme, o carisma, que desde a infância era sua característica maior. Adorado pelos alunos e colegas, escondia o misticismo sob uma camada de alegria e entusiasmo pela vida.
Maria Isabel Oswald Monteiro
Ver também:
“The Marriage of True Minds, an Uncommon Love Story”, by Ann M. Thompson.
New York Times (notas sobre concertos):
Alfredo Oswald in Piano Recital (1920)
Alfredo Oswald plays again (1921)